Por FÁBIO DO NASCIMENTO FONSÊCA
(fabionfonseca@gmail.com)
Entre fins de 2010 e meados
de 2011, a divulgação de indicadores educacionais da Paraíba, em portais de
notícias, jornais locais e noticiário de TV, causou incômoda repercussão. Com
base em informações extraídas do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica) do ano de 2009, os dados divulgados davam conta de que o Estado da
Paraíba ocupava, com 14,7%, o nada honroso
sétimo lugar no ranking nacional de reprovação escolar no ensino fundamental,
sendo o quarto maior índice de reprovação entre os estados do nordeste
(considerados os resultados de escolas federais, estaduais e municipais). Ainda
segundo os dados divulgados pelos referidos meios de comunicação, a Paraíba se
encontrava entre os dez estados do país com o pior IDEB, tanto nas séries
iniciais do ensino fundamental (1º ao 5ª anos) quando nas séries finais (6º ao
9º anos) (PARAÍBA VERDADE HOJE,
em 16/05/11).
Os mesmos dados também davam conta de que as três escolas do país com pior
desempenho no IDEB estavam localizadas na Paraíba, nos municípios de Dona Inês, Nova
Olinda e Duas Estradas (PORTAL WSCOM, em
05/07/10).
A isto se acrescente ainda a divulgação de que a Paraíba figuraria entre os dez
Estados com menor investimento por aluno, de acordo com dados do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais
da Educação – FUNDEB (PORTAL
CORREIO, em 07/08/11).
Aos dados referidos acima, poderíamos acrescentar alguns
outros, igualmente incômodos e que ilustram a permanência da precariedade na
oferta da educação básica no Estado, fruto do descaso histórico para com a
garantia do direito à educação.
De acordo com dados
da PNAD/IBGE (2009), a defasagem média em anos de estudo na Paraíba, entre
crianças de 10 a 14 anos é de 1,4 anos. Segundo os mesmos dados da PNAD/IBEGE, 21,3%
das crianças de 10 a 14 anos estavam com mais de dois anos de atraso escolar em
2009. No tocante à distorção Idade/Série, dados do Censo Educacional 2010
informam que 28,3% das crianças que matriculadas nos anos iniciais do Ensino Fundamental
apresentam distorção Idade /Série. Entre os matriculados nas séries finais do
Ensino Fundamental a distorção alcança 42,3 das crianças e adolescentes. No
Ensino Médio, esses números alcançam 41,7% dos jovens matriculados.
No que se refere aos
profissionais da educação, segundo dados do Censo do Professor (2009), apenas
34,0% dos(as) professore(as) que atuavam em creches na Paraíba possuíam curso
superior. Daqueles que atuavam em pré-escola, a formação superior alcançava apenas
38,6%. Entre os professores e professoras das séries iniciais do Ensino
Fundamental, os que concluíram ensino superior somam apenas 50,9% (ou seja,
quase a metade dos professores das séries finais não possui formação específica
concluída para esta modalidade de ensino). No Ensino médio, mesmo considerando
que este percentual já atinge patamar mais elevado (82,6%), registra-se ainda
17,4% de professores sem formação superior. Ressalte-se ainda que esses dados
não especificam se a formação concluída é uma licenciatura, o que significa que
mesmo com diploma de nível superior, muitos destes podem não dispor da formação
exigida para atuar no magistério da educação básica.
Se os dados são
incômodos e desconfortáveis, cabe indagar acerca da responsabilidade pelos
mesmos. Evidentemente, como ressaltamos, trata-se de uma construção histórica,
expressão de descaso para com a educação da descontinuidade de ações entre
sucessivos governos, da pouca eficácia de políticas públicas nacionais e no âmbito
do estado e, sem sombra de dúvidas, das tramas da burocracia e da corrupção no
uso dos recursos públicos. Todavia, não podemos também, enquanto sociedade
civil, nos isentar de responsabilidade. A passividade da opinião pública e a
pouca mobilização de setores organizados contribuem para a perpetuação desse
quadro.
Já está, pois, mais do
que na hora de assumirmos a nossa responsabilidade, mobilizando-nos para exigir
o cumprimento efetivo do dever do Estado na garantia de uma educação pública de
qualidade efetivamente para todos. Se não assumirmos esta responsabilidade,
estaremos sendo, por omissão cúmplices de
um crime praticado contra um contingente enorme de nossas crianças, jovens e
adolescentes: a negação de sua condição de cidadãos.
Na realidade, já passou mesmo da Hora de tomarmos conta do que é nosso. A passividade diante de sucessivas gestões que mandaram e desmandaram com os recursos não apenas da educação, nos colocaram nessa situação vergonhosa. Isso precisa mudar.
ResponderExcluirCaro Marcos, embora, sem me manifestar, vez ou outra divirja de seus pontos de vista (via twitter), compartilho da sua indignação. Resta saber, quando será a hora de colocar o guizo no pescoço do gato...
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